Análises Gerenciais

Custos e Despesas na DRE – Algumas análises gerenciais

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A Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) é um dos principais relatórios contábeis gerados pela contabilidade para avaliar o desempenho dos negócios. A sua estrutura apresenta uma série de segregações de contas e subtotais que utilizam conceitos que têm como objetivo facilitar a compreensão da atuação da empresa em determinado período. Entre os diversos conceitos presentes, destaca-se a classificação dos gastos em custos e despesas, a qual pode influenciar na avaliação do negócio e de gestores.

Contabilmente pode-se entender o custo como sendo um gasto utilizado na fabricação de um produto ou na prestação de um serviço, estando a eles associados. Por outro lado, a despesa não é consumida neste processo, mas sim no esforço para a manutenção do negócio ou obtenção de receita.

Devido à esta segregação, podem ser destacados dois pontos relevantes para o entendimento da estrutura financeira e gestão de um negócio, sendo eles:

  • A análise gerencial sobre o lucro bruto;
  • O entendimento da relação dos gastos de produção com a demonstração de resultado e fluxo de caixa.

Análise gerencial sobre o lucro bruto

Derivada dos conceitos de custo e despesa descritos, uma importante análise gerencial pode ser realizada utilizando estas definições contábeis. Para melhor compreensão, considere a seguinte estrutura de DRE simplificada:

DRE_Custos_Despesas

Neste modelo pode ser observada claramente a segregação de custos e despesas, os quais devem ser deduzidos da receita do período para iniciar a apuração do resultado do exercício. Mas se o objetivo é apuração do lucro final na operação, pode surgir uma dúvida quanto ao objetivo da existência do subtotal “Lucro Bruto”. Qual seria a sua utilidade gerencial?

Na verdade, a importância do Lucro Bruto está diretamente relacionada aos conceitos de custo e despesa citados anteriormente.

Para facilitar a compreensão, imagine uma fábrica que tem vários anos de atuação, mas em momento algum implementou qualquer tipo de programa de qualidade total ou melhoria contínua focado em seu processo produtivo, os quais, muitas vezes, oferecem incentivos aos seus colaboradores.

No primeiro ano desta ação é normal que uma série de sugestões e modificações sejam implementadas mas, no decorrer dos anos, a identificação de possibilidades de redução de custos tende a ficar cada vez mais difícil de acontecer até que se torne rara. Desta forma, pode-se dizer que a redução de custo de um produto é limitada a partir de certo ponto de desenvolvimento do processo produtivo.

Do ponto de vista da receita, também pode ser observada a mesma situação de limitação mas, neste caso, derivada das condições de mercado que definem o preço aceitável de um produto ou serviço.

Desta forma, considerando que tanto a receita quanto o custo podem ser limitados, a mesma situação se aplica ao lucro bruto.

De maneira distinta, a maior parte das despesas são definidas e ficam sobre controle da empresa pois são os seus gestores os responsáveis por decidir qual a estrutura a ser utilizada no negócio como, por exemplo, o tamanho das áreas de apoio, se existirão atividades terceirizadas, entre diversas outras escolhas.

Na verdade, gerencialmente falando, é recomendável que as empresas acompanhem e se estruturem de acordo com a relação entre as suas despesas e o lucro bruto gerado na operação. Esta proporção deve ser analisada em cada negócio específico, tanto em relação ao seu histórico de atuação quanto às outras empresas atuantes no mesmo segmento.

Do ponto de vista de planejamento, este é um ponto particularmente importante para as Startups, pois a margem esperada no negócio permitirá a realização de um planejamento tributário para determinar a melhor opção a ser adotada no negócio.

A análise desta relação pode ser considerada como sendo um dos motivos que justificam o fato de algumas empresas que, apesar de não estarem gerando resultados ruins e também não apresentarem sinais de dificuldades financeiras, iniciam processos de reestruturação. Em muitos destes casos, o objetivo é enquadrar o negócio em patamares adequados de estrutura financeira.

A relação dos gastos de fabricação com a Demonstração do Resultado e Fluxo de Caixa

O segundo aspecto relevante se refere à compreensão da relação do resultado apurado e o fluxo de caixa, principalmente em empresas industriais, ou seja, naquelas que têm em sua atuação a geração de estoques.

Nestas, enquanto as despesas são diretamente lançadas para resultado, ou seja, diminuem o lucro do exercício, os custos seguem caminho distinto, conforme diagrama abaixo:

Estoque x Custo

Diferentemente dos gastos considerados como despesas, quando uma empresa industrial consome recursos na compra de matéria prima para a fabricação de seus produtos, assim como qualquer outro insumo como energia elétrica ou gasto com pessoal, não há um impacto direto no resultado do exercício.

Seguindo as etapas do diagrama acima, inicialmente o gasto é registrado como estoque de matéria prima e pode ficar “retido” nesta conta enquanto não for consumida.

Uma vez havendo o consumo pelo processo de produção e tendo sido finalizado, o seu montante passa a compor estoque de produtos acabados. Deve-se observar que, até este momento, não houve impacto algum na apuração de resultado do exercício e todas as contas contábeis utilizadas pertencem ao Balanço Patrimonial. Desta forma, esta diferença no enquadramento pode modificar tanto o resultado quanto o total do ativo, gerando impactos na análise de diversos indicadores de desempenho como índices de rentabilidade ou mesmo o EVA® (Economic Value Added).

Finalmente, ocorrendo a venda do produto acabado, há a baixa da conta estoque de produtos acabados e o seu valor é transferido para a de custo na DRE, reduzindo o resultado do período.

Desta maneira, considere que uma empresa fabrique os seus produtos e efetue diversos gastos nesta operação com pagamentos integralmente à vista. Estes valores, diferentemente das despesas, não serão observados inicialmente em sua Demonstração de Resultado do Exercício, pois ficarão “represados” na conta estoque.

Por outro lado, como o pagamento ocorre à vista, o seu total é integralmente registrado como saída no fluxo de caixa. Esta situação faz com que se possa ter grande discrepância entre o relatório de fluxo de caixa e a Demonstração do resultado do exercício de uma empresa.

Deve-se recordar que, no curto prazo, o que pode fazer com que uma empresa tenha a sua continuidade comprometida é o seu fluxo de caixa e não necessariamente o resultado. Isto ocorre pois, havendo saldo de caixa disponível, resultados negativos podem não trazer complicações momentâneas para o negócio por não comprometerem sua capacidade de pagamento. Desta maneira, uma boa gestão de caixa deve levar em consideração uma saudável política de estoque, pois esta tem a capacidade de comprometer toda a evolução do negócio.

Para uma correta interpretação das ações tomadas pela empresa e de algumas de suas estratégias, ao se analisarem os seus relatórios contábeis, deve-se ter plena compreensão dos conceitos e de seus relacionamentos para que conclusões equivocadas não sejam extraídas dos demonstrativos.

No caso da criação de um orçamento empresarial, deve-se identificar de maneira adequada a classificação dos gastos pois as regras de projeção para custos e despesas deverão ser diferentes em virtude dos distintos comportamentos citados.

Sobre o autor:

Louremir Reinaldo Jeronimo é  Doutor em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas – FGV EAESP. Professor convidado dos cursos de MBA do FGV Educação Executiva e FGV In Company (Saiba mais)

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13 respostas »

  1. OLá Professor, bom dia!

    Parabéns pelos artigos… são esclarecedores!

    Tenho acompanhado seus trabalhos e eles têm me ajudado muito na compreensão e definição de alguns conceitos contábeis e financeiros.

    Abraço,

    SILVIA R. DIAS

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