Conceitos Financeiros e Contábeis

A Projeção de Perdas no Orçamento Empresarial

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Ao se observar um processo industrial, é natural que sejam identificados diversos tipos de perdas na execução de suas atividades. No entanto, quando estas são analisadas sobre a perspectiva contábil, podem ser classificadas em dois tipos, as consideradas normais e as anormais.

A classificação em cada um dos grupos citados é definida pelas causas de sua geração. As perdas normais são decorrentes da operação padrão da companhia como, por exemplo, os refugos produzidos no processo e que estejam de acordo com um percentual de ocorrência tradicional.

Desta forma, as perdas normais são consideradas como pertencentes ao processo produtivo e já são esperadas pela empresa.

Por outro lado, ao mesmo tempo podem ocorrer perdas originadas por fatores anormais, tais como, erros na execução das atividades, acidentes, incêndios, enchentes, entre outros.

A perda no processo produtivo em decorrência de fator fora da normalidade e não esperado pela companhia é considerado como anormal.

No dia a dia das empresas, diversos gastos são consumidos, os quais podem ser classificados contabilmente de acordo com os seguintes conceitos:

Custos: São todos os gastos realizados pela empresa com o objetivo de constituição de seu produto ou serviço como, por exemplo, o consumo de matéria prima para a fabricação ou os salários de consultores dedicados à execução de um projeto em uma empresa de consultoria;

Despesas: Pode-se definir como os gastos realizados com o objetivo de obtenção da receita, contribuindo para a evolução do negócio, mas sem estar relacionada à fabricação do produto ou prestação do serviço. Alguns exemplos que podem ser citados são os gastos com propaganda e o aluguel do escritório de uma área administrativa;

Perdas: Estes gastos devem ser entendidos como consumidos de forma anormal e involuntária.

Analisando os dois tipos de perdas definidos, normais e anormais, pode-se observar que se enquadram em definições contábeis distintas.

As perdas consideradas normais, devido ao fato de pertencerem ao processo e serem previsíveis, devem ser classificadas como custos. Por outro lado, as anormais, por se referirem a fatores imprevisíveis devem ser consideradas como perdas contábeis.

Como consequência desta diferenciação, surge a dúvida sobre a forma adequada de considerar as perdas no orçamento empresarial.

De acordo com os conceitos contábeis apresentados, para classificar algo como perda, a sua origem deve ser imprevista.

Assim, sendo possível projetar um gasto no orçamento empresarial, conceitualmente, este não deveria ser considerado como perda, mas sim como custo.

Um exemplo desta situação é o gasto com garantia de produtos industrializados.

Imagine uma empresa que fabrique um produto eletrônico e ao realizar uma análise de seu passado de comercialização perceba que no primeiro ano após a venda (período de garantia), 5% de seus itens apresentam defeitos (entre grandes e pequenos), sendo possível estimar o valor a ser por ela assumido após a venda.

Neste caso, como se trata de um gasto com razoável probabilidade de ocorrência, a empresa deve considerar a estimativa de gastos como custos contábeis, sendo que cada produto fabricado deve receber uma parcela deste valor através de provisionamento.

O fato determinante para sua classificação como custo é a previsibilidade identificada do gasto, mesmo que o valor a ser efetivamente desembolsado não se refira a todos os produtos (apenas alguns devem apresentar problemas durante o período de garantia) e que o momento de ocorrência seja após a fabricação.

Desta forma, em virtude dos conceitos apresentados, se na elaboração do orçamento empresarial, houver evidência que leve a previsibilidade de um gasto a ponto de ser possível inseri-lo, na grande maioria das vezes, este deve ser considerado como custo ou despesa, mas não como perda.

A exceção desta classificação no orçamento empresarial seriam as consequências financeiras geradas pelos eventos causadores das perdas. Suponha que um acidente tenha ocorrido, gerando uma série de perdas no exercício. Neste caso, estes valores não poderiam ter sido considerados no orçamento da empresa devido à sua imprevisibilidade.

No entanto, caso este fato leve à negociações de indenizações, em algum momento, os valores a serem assumidos pela empresa podem ser passíveis de serem estimados e inseridos no orçamento empresarial.

Sobre o autor:

Louremir Reinaldo Jeronimo é  Doutor em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas – FGV EAESP. Professor convidado dos cursos de MBA do FGV Management e FGV In Company (Saiba mais)

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