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As empresas, em seu dia a dia, efetuam uma série de operações financeiras para que a suas atividades sejam executadas e ao analisar a forma como estas são tratadas pelas áreas contábeis, surgem diversas nomenclaturas que podem gerar confusão para aqueles que não estejam familiarizados com os conceitos desta área. Além disso, diferentes classificações contábeis podem trazer modificações em alguns indicadores financeiros, que muitas vezes são a base para avaliações de desempenho de empresas e gestores, fazendo com que algumas interpretações de relatórios possam ser confusas.
Em virtude desta situação, serão apresentadas as principais definições contábeis referentes aos consumos de recursos financeiros das empresas, buscando evidenciar alguns dos possíveis impactos em indicadores utilizados para avaliação de desempenho.
O primeiro ponto a ser apresentado para uma adequada compreensão é a distinção entre gastos e desembolsos:
- Gastos: Podem ser considerados como os consumos de recursos financeiros realizados por uma empresa na aquisição de um produto ou serviço para sua atividade, independentemente de seu momento de pagamento. Desta forma, existem os mais diversos gastos que podem ser citados como exemplo, tais como, a compra de uma máquina, o consumo de energia elétrica, etc.;
- Desembolsos: São os pagamentos de bens ou serviços. Deve-se ressaltar que o momento de ocorrência de um desembolso pode não ser exatamente o mesmo de um gasto. Se uma empresa consome energia elétrica em janeiro e o seu pagamento é efetuado em fevereiro, o gasto ocorre no primeiro mês e o desembolso no segundo.
Outro ponto a ser tratado é a diferença no conceito contábil de custos e despesas:
- Custos: São todos aqueles gastos realizados pela empresa com o objetivo de constituição de seu produto ou serviço, como por exemplo, o consumo de matéria prima para a fabricação ou os salários de consultores de uma empresa de tecnologia dedicados à execução de um projeto;
- Despesas: São os gastos realizados com o objetivo de obtenção de receita, contribuindo, desta maneira, para a evolução do negócio, mas sem estar relacionada à fabricação do produto ou prestação do serviço. Alguns exemplos que podem ser citados são os gastos com propaganda e o aluguel do escritório de uma área administrativa em uma empresa que explore a atividade de fabricação de um produto.
A compreensão destes dois conceitos é de grande importância, tanto para a análise gerencial de um negócio quanto para a correta implantação de um modelo orçamentário visando apoiar o processo de tomada de decisão dos gestores. O impacto desta distinção fica mais evidente em empresas industriais, as quais normalmente apresentam estoques de produtos fabricados.
Quando um gasto é considerado como despesa, há uma associação direta com o período em que é consumido. Assim, este valor é imediatamente lançado na Demonstração de Resultado do exercício da empresa, reduzindo o seu lucro. Por outro lado, em uma fábrica, os custos estão relacionados ao processo produtivo e os recursos financeiros consumidos nesta atividade, passam a incorporar o produto.
A diferença no tratamento contábil de custos e despesas, em um caso como este, é que a empresa pode consumir recursos na fabricação de um produto, mas se não o vender imediatamente, os valores não são lançados na Demonstração de Resultado do Exercício, mas permanecem registrados na conta estoque do Balanço Patrimonial. Estes valores somente serão transferidos para a DRE no momento em que ocorra a venda, procedimento totalmente diferente das despesas.
Esta diferença na relação dos custos e despesas com a Demonstração de Resultado do Exercício e o Balanço Patrimonial pode ser identificada no diagrama abaixo:
Como se pode observar, o processo que leva os consumos financeiros de uma empresa para a Demonstração do Resultado do Exercício é diferente para despesas e custos. Se uma fábrica produzir durante todo um ano, mas sem realizar qualquer venda, não haverá registro de custo em sua apuração de resultado, pois os gastos incorridos na fabricação ficarão retidos na conta estoque, ou seja, no Balanço Patrimonial. Por outro lado, se existirem despesas neste período, estas serão reconhecidas no resultado no momento de seu consumo e reduzirão o lucro do período.
Por fim, deve-se definir o conceito de investimentos:
- Investimentos: São todos os gastos que, em virtude sua vida útil ou pelo fato de seus benefícios serem atribuídos a períodos futuros, são ativados. Não se deve confundir este conceito com o de aplicações financeiras, pois se referem a eventos como aquisições de máquinas para a produção, prédios, computadores, etc.
Os gastos considerados como investimento não impactam diretamente o resultado de um empresa, pois são registrados no Balanço Patrimonial. A sua influência na Demonstração do Resultado do Exercício ocorre com o passar do tempo, ou seja, quando os ativos são depreciados, amortizados ou exauridos, sendo estes os valores a serem lançados a resultado e dependentes da vida útil esperada. A diferença do relacionamento com os relatórios contábeis dos gastos considerados como investimentos, custos e despesas pode ser visualizada no diagrama abaixo:
Deve-se observar que a depreciação, amortização ou exaustão de um ativo pode ser classificada na Demonstração de Resultado do Exercício tanto como custo quanto como despesa. O que irá definir o correto registro é a utilização do ativo a que se refere. Caso um computador, por exemplo, esteja sendo utilizado pela área comercial, a sua depreciação será classificada como despesa, por outro lado, se estiver em uso por uma área de produção será considerada como custo.
No segmento de tecnologia têm surgido diversas ofertas de sistemas em cloud, o que muda a forma de aquisição das empresas. Anteriormente, para ter acesso aos sistemas, as empresas deveriam adquirir licenças (contabilizadas como um ativo não circulante), mas com a nova forma de negociação passaram a ser negociados como serviços, ou seja, gerando o registro contábil como despesa ou custo.
Esta mudança neste mercado específico influencia em um importante indicador de avaliação de desempenho chamado EBITDA (Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization), pois para apurá-lo as empresas devem retirar do lucro os impactos dos juros, tributos e depreciação. Desta forma, quando algo é classificado como ativo, a sua depreciação gerada é excluída deste indicador, mas caso seja considerada como despesa ou custo, o seu valor continuará reduzindo o montante do índice. Em resumo, a classificação contábil de consumos de recursos financeiros como investimentos tende a gerar um maior valor de EBITDA e melhora na avaliação de desempenho do negócio e gestores, quando o mesmo é utilizado.
Recentemente foi publicada uma nova norma contábil (IFRS 16) que modifica as regras para registro de operações de arrendamento e grande parte das operações que eram consideradas como despesas ou custo devem a ser consideradas como investimentos e classificadas no ativo não circulante. Esta mudança tende a gerar impactos em diversos outros indicadores de desempenho, tais como liquidez, endividamento, estrutura de capital ou mesmo EVA® – Economic Value Added.
Especificamente em relação ao reconhecimento do custo de uma companhia na Demonstração de Resultado do Exercício, podem ser encontradas diferenças de nomenclaturas utilizadas, as quais dependem de sua atividade. Quando a entidade atua como um fabricante de produtos, os valores que são baixados do estoque e levados para resultado são classificadas em uma conta chamada “Custo dos Produtos Vendidos – CPV”. Caso exerça uma atividade comercial, como uma loja por exemplo, estes serão registrados como “Custo das Mercadorias Vendidas – CPV”. Por fim, se a empresa for prestadora de serviços, em geral será utilizada a conta “Custo dos Serviços Prestados – CSP”.
Derivadas das classificações contábeis apresentadas, podem existir grandes diferenças em alguns indicadores financeiros e consequentemente nas avaliações de desempenho das empresas e gestores. Caso gastos relevantes sejam realizados por uma empresa e considerados como despesas, irão reduzir imediatamente o seu lucro contábil e consequentemente os índices de margem de lucro e rentabilidade, por exemplo. Por outro lado, se estes mesmos gastos forem considerados como investimentos, apesar de ambas as situações representarem saídas de caixa imediatas (caso à vista), não reduzirão o lucro contábil pois serão ativados.
Estas diferenças nas consequências contábeis explica o motivo de algumas empresas terem o direcionamento de reduzir os gastos com despesas, mas com a autorização para aumentarem a aquisição de ativos, pois este movimento pode estar diretamente relacionado à apuração do resultado da empresa e muitas vezes à remuneração variável dos executivos por elas responsáveis.
Sobre o autor:
Louremir Reinaldo Jeronimo é Doutor em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas – FGV EAESP. Professor convidado dos cursos de MBA do FGV Educação Executiva e FGV In Company (Saiba mais)
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