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O orçamento empresarial, além de seu papel fundamental no apoio as atividades de planejamento, possui a função de ser uma importante ferramenta de controle através da análise e limitação de gastos que não tenham sido previamente aprovados.
Em processos de negociações comerciais, são comuns os casos de empresas que afirmam possuírem verba aprovada para a contratação de OPEX, enquanto outras dizem o mesmo para CAPEX.
CAPEX é a abreviação da expressão da língua inglesa, capital expenditure, a qual pode ser compreendida como investimentos em bens de capital. Alguns exemplos seriam máquinas e equipamentos adquiridos ou prédios próprios para uso da empresa.
OPEX é a abreviação de outra expressão da língua inglesa, operational expenditure, a qual está relacionada a gastos com despesas, tais como aluguéis e propagandas.
Podem existir operações que envolvam ambas as modalidades, como a aquisição de um automóvel com a contratação de serviços de manutenção. Neste caso, observa-se uma negociação de CAPEX e OPEX ao mesmo tempo. A aquisição do automóvel se enquadra na primeira categoria e o serviço na segunda.
No mercado de tecnologia há ofertas que são consideradas como CAPEX (aquisição de licenças) e outras OPEX (contratações de serviços em cloud). Deve-se ressaltar que algumas destas últimas operações podem ter a sua contabilização modificada em virtude de possíveis entendimentos derivados da IFRS 16.
Com relação ao direcionamento de verbas orçamentárias, qual seria o motivo de uma empresa aprovar gastos com CAPEX e outra com OPEX, se ambos representam saídas de caixa?
Quando uma empresa faz uma contratação considerada OPEX, está assumindo uma despesa que é diretamente lançada no resultado. Por outro lado, quando o gasto é classificado como CAPEX, está ocorrendo a aquisição de um ativo que irá compor o Balanço Patrimonial. Neste último caso, a aquisição em si não afeta o resultado da empresa, mas somente a sua depreciação (amortização ou exaustão, dependendo do tipo de ativo) a qual será levada para resultado ao longo do tempo.
Esta diferença entre as classificações contábeis pode trazer consequências em diversos indicadores e avaliações de desempenho de gestores, sendo esta uma causa para os direcionamentos observados.
Para a compreensão dos impactos desta decisão, suponha que uma empresa tenha a possibilidade de contar com uma máquina para a sua operação que poderá ser adquirida (CAPEX) ou negociada através da contratação do direito de seu uso (OPEX). Esta operação teria as seguintes características:
- Valor para aquisição do ativo: R$ 1.000.000;
- Valor da depreciação anual: R$ 200.000;
- Custo médio ponderado de capital da empresa: 16,84%a.a.;
- Valor anual de direito de uso: R$ 168.400;
- Não há situação de restrição de caixa na empresa.
Deve-se observar que o valor anual do direito de uso foi calculado de modo que financeiramente a decisão seja indiferente no momento de decisão, ou seja:
Valor para aquisição: R$ 1.000.000
(x) Custo médio ponderado de capital: 16,84%
(=) Valor anual de direito de uso: R$ 168.400
A equivalência financeira pode ser observada considerando a contratação do direito de uso como uma perpetuidade, ou seja, a empresa manterá o contrato indefinidamente. Neste caso, o valor presente deste fluxo perpétuo é:
R$ 168.400/16,84% = R$ 1.000.000
Assim, no momento zero, considerando as premissas assumidas para efeito de simplificação e compreensão dos conceitos, a decisão seria financeiramente indiferente entre a aquisição do equipamento ou a contratação de seu direito de uso.
Apesar desta indiferença financeira, os aspectos contábeis que existem em cada uma das possibilidade de contratação afetam alguns indicadores financeiros e consequentemente avaliações de desempenho. Para efeito de análise, serão considerados os impactos destas opções no lucro líquido e EBITDA.
Para isso, considere que antes da negociação a companhia tenha a seguinte Demonstração de Resultado:
Caso a opção seja de aquisição do ativo (CAPEX), a sua Demonstração de Resultado seria impactada pela nova depreciação e a consequente redução nos tributos sobre o lucro, conforme a figura abaixo:
No caso de contratação do direito de uso (OPEX), a Demonstração de Resultado seria impactada pelo surgimento da nova despesa e a consequente redução dos tributos sobre o lucro, conforme abaixo:
Observando os dois resultados, pode-se perceber que os lucros líquidos apurados em cada situação são distintos. Além disso, a diferença de contabilização também gera impactos na apuração do EBITDA pois, em sua metodologia de cálculo, do lucro líquido são excluídos os tributos, despesas financeiras e depreciação. Desta forma:
Os resultados apurados demonstram que há uma grande diferença no EBITDA em cada situação. O motivo é que no caso da operação de CAPEX, a depreciação lançada no resultado é excluída, enquanto no caso de OPEX, a despesa contabilizada na DRE é mantida.
Com base nos números deste exemplo, pode-se concluir que um importante fator para a existência de direcionamento de gastos como CAPEX ou OPEX é a avaliação de desempenho dos gestores.
Caso os administradores da empresa utilizada como exemplo estejam sendo avaliados pelo lucro líquido, a tendência é que a preferência seja para gastos de OPEX. Por outro lado, se estes estiverem sendo avaliados pelo EBITDA, a escolha tenderia a ser para operações de CAPEX.
O impacto analisado através do exemplo em questão foi baseado no EBITDA, mas deve-se ressaltar que a escolha entre as duas opções impacta diretamente o total de ativo e de despesas de uma empresa, com consequências em diversos outros indicadores tais como de rentabilidade ou EVA® (Economic Value Added), o que pode fazer com que a preferência por uma outra modalidade seja alterada.
Sobre o autor:
Louremir Reinaldo Jeronimo é Doutor em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas – FGV EAESP. Professor convidado dos cursos de MBA do FGV Management e FGV In Company (Saiba mais)
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Ótimo artigo PROF. DR. Louremir, obrigado por compartilhar. Dúvida!? O regime de tributação das empresas pode influenciar no direcionamento dos gastos?
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Olá Ronie,
Muito obrigado! Quanto à sua dúvida, pode existir sim uma diferença nos direcionamentos de gastos ao analisarmos regimes tributários. Na verdade, este ponto pode influenciar mais no caso de empresas de lucro real pois estas têm redução em sua carga tributária quando existem novas despesas lançadas a resultado. Deve-se observar que no caso de Capex, normalmente temos a depreciação reduzindo o lucro enquanto no Opex, a despesas em si. O impacto citado será definido pela diferença dos valores de cada caso.
Um exemplo da particularidade desta situação pode ser referente a um terreno. Suponha que a empresa tenha a intenção de utilizar um terreno, o qual pode ser adquirido ou alugado. Neste caso, com o aluguel temos uma despesa que diminuirá tributos, mas este tipo de ativo não sofre depreciação, ou seja, se for adquirido não gerará benefícios tributários.
Desta forma, tributariamente a situação deve ser analisada individualmente e de acordo com a legislação a que a empresa está submetida.
Espero ter esclarecido.
Até logo!!
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Muito bom o artigo prof. Louremir. Ficou muito claro a utilização dos conceitos de OPEX e CAPEX.
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Muito obrigado Sérgio Dantas!
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Fiquei impressionada com a forma que explicou a diferença entre CAPEX e OPEX. Parabéns! Material de fácil compreensão.
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