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A atividade de planejamento é fundamental para uma boa gestão empresarial, pois, sem ela, os caminhos seguidos e os resultados alcançados podem não ser os melhores.
Para que se obter os benefícios esperados do planejamento, a empresa deve possuir um processo de controle que permita avaliar os resultados das ações, identificar oportunidades a serem aproveitadas e problemas a serem corrigidos. A contabilidade é peça fundamental para a construção deste processo de gestão, pois, só há controle quando existem informações disponíveis para realizá-lo.
Há diversas fontes de informações nas empresas, a quais, em muitos casos, podem até ser conflitantes. A contabilidade é a única imparcial, que possui regras específicas para efetuar os registros e que está sujeita a mecanismos de controle. Esta realidade afasta a possibilidade de utilização de pontos de vista na geração de seus dados.
Existem grupos de usuários da informação contábil, que podem ser resumidos entre:
- Usuários externos: aqueles que estão fora do ambiente da organização e utilizam a informação para a tomada de decisão sobre a empresa, tais como, investidores, governo e bancos;
- Usuários internos: são os gestores que utilizam a informação para planejamento e controle da empresa, desde operacionais de curto prazo até estratégicas de longo.
Apesar de ambos os grupos serem usuários da informação contábil, a sua utilização é distinta, o que faz com que surjam diferenças entre a contabilidade financeira e a gerencial.
A contabilidade financeira é a que desenvolve a informação com foco no usuário externo enquanto a gerencial tem como objetivo suprir as demandas dos gestores internos. Esta diferença de público pode fazer com que suas informações sejam bastante diferentes, pois, enquanto a primeira deve seguir regras e princípios que esteja sujeita, a segunda tem que se moldar para atender ao modelo de gestão da empresa, o qual pode demandar diversas visualizações e adequações que não seriam aceitas na contabilidade financeira.
A contabilidade gerencial é diferente da financeira por diversos pontos, sendo que uma descrição comparativa detalhada pode ser encontrada no livro Contabilidade Gerencial, 12◦ Edição, dos autores Horngreen, Sundem e Stratton, Editora Pearson – Prentice Hall:
Contabilidade Gerencial | Contabilidade Financeira | |
Usuários | Gestores da organização | Usuários externos |
Liberdade de escolha | Sem restrições | Restritos pelas normas e regras vigentes |
Implicações comportamentais | Preocupação com a influência de suas informações na gestão | Preocupação de adequada mensuração e publicação |
Enfoque de tempo | Orientação para o futuro | Orientação para o passado |
Horizonte de tempo | Mais flexível, se adequando a necessidade de gestão | Menos flexível e respeitando a estrutura formal (Anos, trimestres, etc.) |
Relatórios | Mais detalhados para dar suporte a gestão interna | Mais resumidos para fornecer a visão da organização como um todo |
Delineamento das atividades | Maior possibilidade de utilização de conceitos de outras disciplinas como economia, ciências de decisão e comportamentais | Maior restrição de utilização de conceitos originados em disciplinas afins |
Estes autores definem que “a contabilidade gerencial é o processo de identificar, mensurar, acumular, analisar, preparar, interpretar e comunicar informações que auxiliem os gestores a atingir objetivos organizacionais. Em contrapartida, a contabilidade financeira refere-se à informação contábil desenvolvida para usuários externos como acionistas, fornecedores, bancos e agências regulatórias governamentais”.
O que acontece na prática, como os mesmos autores citam, é que os princípios contábeis “encerram conceitos ou diretrizes abrangentes e práticas detalhadas, incluindo todas as convenções, regras e procedimentos que, juntos, tornam as práticas as práticas contábeis aceitas em um dado momento. Os relatórios internos da contabilidade, entretanto, não precisam ser restritos aos PCGAs”(Princípios de Contabilidade Geralmente Aceitos).
A contabilidade financeira é a base para a informação gerencial, sendo que para atender às necessidades de análise dos gestores, sofre alterações em relação às normas contábeis. Isso não quer dizer que seja abandonada ao utilizar a gerencial, pois, sua confiabilidade tem origem na financeira, sendo importante salientar que eventuais diferenças devem ser coerentes e manter a capacidade de conciliação entre elas.
O orçamento empresarial é um dos principais exemplos de contabilidade gerencial, podendo ser citados alguns exemplos reais observados, tais como:
- Não considerar provisões referentes a demissões nas áreas onde os colaboradores estejam localizados, para alocá-las em conjunto no centro de custo de Recursos Humanos;
- A criação e utilização de um produto fictício no orçamento de usinas, substituindo o açúcar e o álcool, visando avaliar e comparar a eficiência do processo produtivo ao longo do tempo.
Em relação ao ponto de vista contábil, ambos os exemplos são questionáveis, mas fazem sentido para a gestão das empresas que visualizam o negócio com estas regras. Assim, os orçamentos, utilizando a contabilidade gerencial, são montados de acordo com definições gerenciais, mas sempre preservando a consistência das informações da contabilidade financeira.
Desta forma, para que as empresas possuam eficientes métodos de controle e de tomada de decisão, é importante que os seus sistemas de informação sejam adequados. Para isso, deve-se garantir que a contabilidade financeira esteja corretamente estruturada para possibilitar o desenvolvimento de processos de contabilidade gerencial que apoiem de maneira efetiva as decisões dos gestores.
Sobre o autor:
Louremir Reinaldo Jeronimo é Doutor em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas – FGV EAESP. Professor convidado dos cursos de MBA do FGV Management e FGV In Company (Saiba mais)
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