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Para uma boa gestão empresarial é fundamental que os resultados apurados pelos negócios sejam cuidadosamente acompanhados para que se possam tomar ações visando garantir que as expectativas dos investidores sejam satisfeitas.
No entanto, é comum encontrar planejamentos orçamentários que projetam apenas a Demonstração do Resultado do Exercício Orçada, que é muito importante mas não deve ser analisada isoladamente.
Além deste relatório é fundamental que a atuação da empresa seja analisada também sobre a perspectiva do fluxo de caixa. Esta análise conjunta se torna relevante, pois, enquanto o resultado do fluxo de caixa orçado pode indicar uma tendência de situação crítica ou mesmo de insolvência, na demonstração de resultado orçada pode-se identificar necessidades de alterações no negócio para evitar prejuízos. Esta diferença nas informações decorre dos regimes de caixa e competência.
No regimente de competência, as receitas devem ser reconhecidas no momento em que são geradas, assim como todos os custos ou despesas a elas vinculados. Neste caso, não importa quando as receitas serão recebidas ou os custos e despesas pagos, mas sim sua geração e consumo. Quando se analisa o resultado de uma empresa pelo regime de competência, busca-se compreender a geração de resultado do negócio.
De maneira distinta, no regime de caixa, o que realmente importa é o momento em que as receitas são recebidas e os custos e despesas pagos, independentemente de sua geração ou consumo.
Deve-se observar que as dificuldades financeiras de um negócio são decorrentes de falta de caixa e não necessariamente de prejuízos, sendo este um dos motivos do fluxo de caixa orçado ser uma das projeções mais importantes para a gestão empresarial.
A estrutura do fluxo de caixa orçado pode ser elaborada tanto pelo método direto quanto indireto, sendo aconselhável a elaboração de ambos devido a complementariedade das informações fornecidas.
A projeção deste relatório, na verdade, é consequência de todas as etapas do orçamento empresarial, tais como receita, custo (tanto em indústrias, empresas de serviços ou de varejo), OPEX e CAPEX. Em cada uma, deve-se considerar a forma como as receitas serão recebidas e os gastos pagos (lembrando que existem itens que não têm efeito caixa, tal como a depreciação, não devendo ser considerados nesta projeção).
Desta forma, o fluxo de caixa orçado será a consequência das movimentações projetadas em cada uma das fases do orçamento empresarial, considerando alguns incrementos de finalização do planejamento.
Ainda com relação à sua estrutura, é importante para a análise do negócio que seja segregado em três grupos:
- Atividades Operacionais: neste grupo devem ser consideradas as entradas e saídas de caixa orçadas que estejam vinculadas ao objeto social da empresa, ou seja, derivadas de sua atividade fim. Alguns exemplos podem ser pagamento de fornecedores, o recebimento de vendas realizadas e pagamento de funcionários;
- Atividades de Investimento: neste grupo devem ser inseridas as previsões relacionadas a ativos a serem utilizados na operação e negociações de participações de empresas;
- Atividades de Financiamento: neste grupo devem ser inseridas as previsões de aporte de recursos originados dos acionistas ou cotistas e o seu retorno como distribuição de lucros ou dividendos. Também devem ser classificadas todas as movimentações referentes a empréstimos tais como captações, amortizações e juros.
As empresas devem iniciar a projeção do fluxo de caixa pelas atividades operacionais para avaliar as suas disponibilidades financeiras decorrentes dos resultados de suas operações. Em seguida, podem ser estudadas possíveis aplicações, tais como, a realização de novos investimentos, liquidação de financiamentos e distribuição de lucros.
Nas projeções é importante que as empresas apresentem o fluxo das atividades operacionais positivo, visando garantir o equilíbrio de suas operações. Caso apresentem lucro e o seus fluxos operacionais sejam negativos, podem estar sofrendo o chamado efeito tesoura, onde a variação da necessidade de capital de giro retém mais caixa que o gerado pelo negócio.
O relacionamento do orçamento do fluxo de caixa com as outras etapas do orçamento empresarial
O orçamento do fluxo de caixa é consequência das projeções de todas as etapas do orçamento empresarial. Em cada uma, deve-se projetar as receitas e gastos, bem como a forma de seu recebimento ou pagamento. O agrupamento destes valores é o que compõe este relatório, a partir do saldo inicial do período.
Em geral, no orçamento empresarial, a elaboração do fluxo de caixa é composta pelas seguintes fases:
- Orçamento de Receita: nesta etapa, são calculados os recebimentos referentes às vendas ou prestações de serviços. Também devem ser apuradas as previsões de pagamentos de tributos sobre a receita, tais como PIS, COFINS, ICMS etc. Deve-se observar que, caso existam créditos tributários a serem compensados, estes farão com que o valor projetado não seja exatamente igual ao pago, devendo este detalhe ser considerado nas previsões;
- Orçamento de Custos: esta fase pode ser composta de várias etapas, independentemente da projeção ser de uma empresa industrial, de serviços ou de varejo. Em cada uma, deve-se analisar os seus componentes para verificar se irão representar saídas de caixa a compor o fluxo, lembrando que eventuais valores de depreciação, que não são pagos, não devem ser considerados neste relatório. Na projeção de custos não se deve deixar de considerar as previsões de pagamentos referentes ao orçamento de custos indiretos;
- Orçamento de Opex: na projeção de despesas deve-se analisar os seus componentes e condições de pagamento para fazer as estimativas. Da mesma forma que na etapa de custos, as previsões de despesas de depreciação não devem compor o fluxo de caixa orçado;
- Orçamento de Capex: para cada uma das previsões de investimentos de capital que fazem parte da projeção, devem ser consideradas as formas de pagamento previstas para projetar os fluxos orçados;
- Orçamento de gastos com pessoal: apesar dos gastos com pessoal fazerem parte tanto da projeção de custos quanto de despesas (Opex), suas estimativas de pagamento devem ser realizadas de maneira conjunta em sua origem, gerando apenas um processo de previsão. Para cada um dos componentes de gastos com pessoal, deve-se considerar os prazos para apurar as saídas de caixa. Um ponto de atenção é que nesta etapa existem diversos componentes que não representam saídas de caixa no momento de apuração, como provisões de férias e décimo terceiro. Estes itens devem ser orçados de maneira independente dos outros gastos e são realizados de acordo com a previsão dos eventos que os transformem em saídas de caixa, tais como demissões e saídas de férias;
- Demonstração de Resultado do Exercício Orçada: nesta etapa de projeção são apurados os tributos sobre o lucro, de acordo com sua forma de pagamento, levando-se em consideração eventuais compensações de créditos tributários. Um ponto importante nesta etapa é que a projeção de captações ou aplicações de recursos podem alterar o lucro orçado da empresa devido ao resultado financeiro projetado e à previsão de pagamento dos tributos sobre o lucro. Esta situação pode gerar um processo cíclico ente a DRE e o Fluxo de Caixa, requerendo atenção na lógica para não causar uma referência circular entre os relatórios orçados. Ainda com relação à projeção de pagamento de tributos sobre o lucro, deve-se observar o regime tributário adotado pela empresa para que as regras sejam elaboradas de maneira adequada;
- Outras Projeções: para finalizar a projeção do fluxo de caixa devem ser consideradas algumas movimentações de caixa da empresa que são complementares, tais como, distribuição e recebimento de dividendos, operações de mútuo, aportes de capital ou qualquer outro evento fora das atividades operacionais da empresa que devam ocorrer no período orçamentário.
Deve-se observar que estas etapas refletem um processo padrão de orçamento empresarial, sendo que podem existir fases complementares devido a particularidades do negócio que se esteja orçando.
Com base nas etapas descritas, pode-se visualizar o seguinte diagrama de relacionamentos do fluxo de caixa orçado com outras etapas do processo:
Sobre o autor:
Louremir Reinaldo Jeronimo é Doutor em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas – FGV EAESP. Professor convidado dos cursos de MBA do FGV Educação Executiva e FGV In Company (Saiba mais)
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