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Suponha duas empresas com operações distintas. A primeira atua no mercado há muito tempo, mas está apurando R$ 50.000,00 de prejuízo mensal, de maneira recorrente. A segunda, em situação diferente, acabou de iniciar a sua operação e logo no primeiro negócio adquiriu uma mercadoria pelo valor de R$ 1 milhão, a qual revendeu por R$ 6 milhões no dia seguinte, gerando lucro de R$ 5 milhões.

A situação de recorrência de prejuízos da primeira empresa revela algo muito importante a ser analisado para que medidas corretivas sejam tomadas. No entanto, se esta companhia tiver R$ 50 milhões em caixa, este resultado poderá ser mantido por, no mínimo, 1.000 meses sem que sua operação fique comprometida. Neste caso, o prejuízo tem baixo potencial imediato de gerar insolvência devido à excelente situação de caixa.

Por outro lado, analisando de maneira mais detalhada a negociação realizada pela segunda empresa, imagine que tenha adquirido a mercadoria para pagamento em 30 dias e a revendido para recebimento em dois anos. Neste caso, mesmo com o excelente resultado, a companhia pode passar dificuldades financeiras ou até encerrar suas atividades se não possuir recursos adicionais suficientes para a manutenção do negócio durante todo este período.

Estes exemplos demonstram duas formas distintas de visualizar o resultado de um negócio, a apuração pelo regime de competência e de caixa.

No regimente de competência, as receitas são reconhecidas no momento em que são geradas, assim como, todos os custos ou despesas à elas vinculados devem ser apresentados no mesmo período. Neste caso, não importam as datas de recebimento ou pagamento, apenas a geração e consumo.

Ao analisar uma empresa pelo regime de competência, busca-se compreender a sua capacidade de criação de resultado em cada um dos períodos.

De maneira distinta, no regime de caixa, o que interessa é o momento em que as receitas são recebidas e os custos e despesas pagos, independentemente de sua geração ou consumo.

Imagine uma empresa que revenda, no mês de janeiro, uma mercadoria por R$ 1.000, a qual tenha sido adquirida no mesmo período por R$ 600. Considere ainda que a venda foi realizada à vista e a aquisição com 30 dias de prazo.

Nesta situação, pelo regime de competência, seria apurado o seguinte resultado:

Competencia

De maneira distinta, pelo regime de caixa, seria observada a seguinte estrutura:

Caixa

Como se pode observar, os resultados apurados na operação podem ser totalmente diferentes ao utilizar o regime de competência ou de caixa.

Uma possível dúvida decorrente dos conceitos apresentados é se uma empresa que tenha um bom saldo de caixa deve se preocupar em analisar o resultado pelo regime de competência.

Na verdade, é muito importante a análise dos resultados de acordo com ambos os regimes, tanto no planejado quanto realizado.

Para garantir a continuidade dos negócios, não se deve simplesmente ignorar a apuração pelo regime de competência, pois, a geração contínua de resultados negativos tende a, paulatinamente, reduzir o caixa da empresa até chegar à uma situação crítica.

Deixar de analisar o resultado de um negócio pelo regime de competência é um engano gerencial, pois, é através dele que se pode compreender a natureza do negócio, ou seja, entender se a empresa tem um produto ou serviço lucrativo e, caso contrário, avaliar onde está localizado o problema a ser enfrentado para reverter a situação.

Outro ponto a ser destacado é que um elevado saldo de caixa pode mascarar ineficiências na operação e fazer com que ocorra a manutenção de negócios com resultados insatisfatórios ou mesmo inaceitáveis.

Desta forma, para uma boa gestão empresarial, a análise deve ser realizada através da apuração de resultado tanto pelo regimento de competência quanto de caixa, pois suas informações são necessárias e complementares.

Apesar da importância da análise por ambos os regimes, no curto prazo, a continuidade dos negócios depende da situação de caixa da companhia. Isto é o que justifica o fato de diversas empresas, principalmente em início de operação, manterem as suas atividades normalmente mesmo com uma sequência de resultados negativos, ou seja, investidores com expectativa de reversão futura e valorização do negócio fornecem caixa suficiente para continuarem as suas operações.

Sobre o autor:

Louremir Reinaldo Jeronimo é  Doutor em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas – FGV EAESP. Professor convidado dos cursos de MBA do FGV Management e FGV In Company (Saiba mais)

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13 respostas para “As Empresas Não Quebram Pelo Prejuízo! Analisando Negócios pelos Regimes de Caixa e Competência”.

  1. Sempre bom rever os conceitos.

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  2. Muito bom o artigo Dr. Louremir. É possível também que a empresa que apresenta prejuízo de 50 mil por mês nunca se encontre numa situação de insolvência caso esta tenha uma depreciação/amortização muito alta, ainda mais se a taxa utilizada para esses fins for maior que a real depreciação dos bens. No momento em que a depreciação/amortização encerrar esta tende a apresentar lucro. Estou certo? Parabéns pelo artigo novamente, abraço.

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    1. Olá Luiz Roberto. Está correta sua análise. Foi este o motivo para que, na indicação do prazo que a empresa poderia ficar tendo prejuízo, foi escrito “no mínimo” 1000, ou seja, se houver depreciação este pode ser maior. Até logo!

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  3. Luiz, não se esqueça que a depreciação lançada se presta a criar reserva de caixa para recomposição dos ativos, portanto, não conte com esse caixa para compensar prejuizos, pois, será utilizado em investimentos muito prováveis no futuro.

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  4. […] Além de projetar o total de despesas, que irá compor a Demonstração de Resultado do Exercício Orçada, também deverão ser definidas as formas como estas serão pagas para integrarem as saídas no Fluxo de Caixa Orçado. A diferença entre as informações de cada relatório é derivada da aplicação dos conceitos de regime de caixa (Fluxo) e de competência (DRE). […]

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  5. […] que para a elaboração da Demonstração de Resultado do Exercício Orçada deve-se utilizar o regime de competência, pois o seu objetivo é compreender a capacidade de criação de resultado em…. Também é importante ressaltar a importância da correta classificação de custos ou despesas […]

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  6. […] mais importantes para a gestão financeira de uma empresa é o seu Fluxo de Caixa Orçado pois a continuidade dos negócios depende da sua situação de caixa. Para sua elaboração, é importante que as movimentações sejam segregadas em três […]

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  7. […] Além deste relatório é fundamental que a atuação da empresa seja analisada também sobre a perspectiva do fluxo de caixa. Esta análise conjunta se torna relevante, pois, enquanto o resultado do fluxo de caixa orçado pode indicar uma tendência de situação crítica ou mesmo de insolvência, na demonstração de resultado orçada pode-se identificar necessidades de alterações no negócio para evitar prejuízos. Esta diferença nas informações decorre dos regimes de caixa e competência. […]

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  8. […] A análise do fluxo de caixa orçado, preparado pela controladoria, é muito importante pois a demonstração de resultado do exercício (DRE) orçada, isoladamente, pode deixar de evidenciar situações de risco de negócio, uma vez que suas dificuldades podem não ser derivadas de prejuízos, mas sim de ausência de caixa. […]

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  9. […] O fato de uma empresa apresentar um excelente resultado em suas operações não garante, necessariamente, que a sua gestão esteja financeiramente adequada. Isto pode acontecer quando uma companhia, ao gerar um bom resultado, realize investimentos muito elevados em máquinas e equipamentos, consumindo sua geração de caixa e gerando dificuldades financeiras. Deve-se atentar para o fato de que o motivo que leva uma empresa a ter dificuldades financeiras está relacionado ao caixa e não inici…. […]

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  10. […] de alterações no negócio para evitar prejuízos. Esta diferença nas informações decorre dos regimes de caixa e competência. A estrutura do fluxo de caixa orçado pode ser elaborada tanto pelo método direto quanto […]

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  11. Avatar de Edson Marquetti
    Edson Marquetti

    Excelente artigo. Muitos empresários se atentam apenas pelo DRE e esquecem que o DFC deve ser analisado também, e vice-versa.

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    1. Olá Edson,

      Realmente esta é uma falha de compreensão de negócios muito comum.

      Até logo!

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