Conceitos Financeiros e Contábeis

No Orçamento Empresarial, deve-se projetar o Fluxo de Caixa Direto ou Indireto?

Direto ou Indireto

Fonte da imagem: https://www.pexels.com

Na contabilidade financeira, a demonstração do fluxo de caixa pode ser elaborada de acordo com o método direto ou indireto, sendo ambos derivados da análise da Demonstração do Resultado do Exercício e do Balanço Patrimonial, acrescidos de informações adicionais sobre aquisições de ativos e operações financeiras.

Ambas as estruturas apresentam três grupos de classificação das movimentações de caixa:

  • Atividades Operacionais: neste grupo devem ser consideradas as entradas e saídas de caixa orçadas que estejam vinculadas ao objeto social da empresa, ou seja, derivadas de sua atividade fim. Alguns exemplos podem ser o pagamento de fornecedores, o recebimento de vendas e o pagamento de funcionários;
  • Atividades de Investimento: neste grupo devem ser inseridas as previsões relacionadas a aquisição de ativos a serem utilizados na operação da empresa e negociações de participações de empresas;
  • Atividades de Financiamento: por fim, neste grupo devem ser inseridas as previsões de aporte de recursos originados dos acionistas ou cotistas e o seu retorno como distribuição de lucros ou dividendos. Também devem ser classificadas todas as movimentações referentes a empréstimos tais como captações, amortizações e juros.

Comparando-se os dois métodos de fluxo de caixa, pode-se observar que sua diferença se encontra na elaboração das atividades operacionais.

No fluxo de caixa direto, as atividades operacionais são compostas pelas movimentações integrais de entrada e saída, apuradas através das contas a serem pagas e recebidas do Balanço Patrimonial, em conjunto com a Demonstração do Resultado do Exercício.

O fluxo de caixa indireto utiliza metodologia diferente para avaliar a variação no caixa de uma entidade. Segundo este método, parte-se do lucro líquido (como se todas as contas da Demonstração de Resultado do Exercício representassem exatamente e somente as entradas e saídas de caixa da empresa no período). Em seguida, são identificadas as contas que não tem efeito no caixa, mas fazem parte da DRE, para eliminar seu impacto no lucro. Por fim, através das variações das contas do Balanço Patrimonial, são realizados os ajustes finais nas movimentações de caixa.

No orçamento empresarial, deve-se utilizar o método direto ou indireto?

A elaboração do orçamento empresarial é composta por diversas etapas, tais como, Receita, CustoOpex e Capex. Em cada uma podem ser apuradas movimentações de entrada e saída, através da identificação das contas que tem efeito no caixa e em conjunto com seus prazos de pagamento e recebimento.

Desta forma, em cada fase de projeção é possível apurar as informações necessárias para preparar o fluxo de caixa orçado, sendo que o resultado de seu agrupamento pode gerar um relatório semelhante ao do método direto.

Sobre o ponto de vista de construção de um orçamento, a elaboração do fluxo de caixa indireto (partindo do lucro líquido do período em conjunto com as variações das contas de balanço patrimonial) seria dispensável.

No entanto, no grupo de atividades operacionais elaborado pelo modelo indireto, podem ser projetadas algumas informações importantes para a gestão financeira da empresa.

Partindo do resultado do período e ajustando o seu valor através da exclusão das contas existentes na Demonstração de Resultado do Exercício Orçada que não representam entradas ou saídas de caixa, chega-se à Geração de Caixa do negócio.

Continuando a estrutura das atividades operacionais no fluxo de caixa indireto, são apuradas as variações das contas do ativo e passivo circulante, excluindo o disponível e empréstimos. O agrupamento destas variações é chamado de Necessidade de Capital de Giro. Para a sua apuração, de maneira resumida, pode-se dizer que:

  • No Ativo Circulante:
    • O aumento em seus saldos diminui o caixa da empresa. Exemplo: se a companhia planeja aumentar o valor em seu estoque pode-se considerar que mais recursos deixarão o caixa e serão utilizados para adquirir mercadorias, diminuindo o caixa;
    • A diminuição em seus saldos aumenta o caixa da empresa. Exemplo: Se a projeção é de diminuição no valor de contas a receber, isto significa que os recursos pertencentes à empresa que ficariam em posse dos clientes serão recebidos, aumentando o caixa.
  • No Passivo Circulante:
    • O aumento em seus saldos eleva o caixa da empresa. Exemplo: se o planejamento apresenta crescimento no valor de contas a pagar, isto significa que a empresa receberá algum bem ou serviço sem efetuar o pagamento, ou seja, conceitualmente esta operação seria equivalente à captação de um empréstimo,  aumentando o caixa;
    • A diminuição em seus saldos reduz o caixa da empresa. Exemplo: se o planejamento prevê queda no valor da conta fornecedores, pode-se considerar que a empresa pretende quitar uma dívida, diminuindo o caixa.

A análise destes dois componentes fornece informações importantes, as quais podem ajudar na discussão e aprovação dos planejamentos orçamentários, tanto anuais quanto estratégicos.

O ideal é que a empresa mantenha a sua geração de caixa positiva, pois esta representa a forma natural de financiamento do negócio.

No entanto, mesmo com geração de caixa positiva, a variação da necessidade de capital de giro pode apresentar valor negativo. Isto é possível quando o aumento no volume de atividade da empresa trouxer como consequência a necessidade de maior estoque e contas a receber, por exemplo. Este efeito faz com que a empresa aumentando seu faturamento, ao contrário do senso comum,  tenha menos caixa para sua operação.

Do ponto de vista de planejamento financeiro, não há problema no fato da variação de necessidade capital de giro ser momentaneamente maior que a geração de caixa, desde que esta diferença seja compensada por recursos oriundos das atividades de financiamento ou de investimento. No entanto, esta situação deve ser pontual e deve-se sempre buscar fazer com que esta diferença seja positiva para garantir saúde financeira do negócio.

Desta forma, apesar de ser possível apurar as entradas e saídas de caixa das operações projetadas em todas as etapas de construção do orçamento empresarial, sendo estas suficientes para elaborar o fluxo de caixa orçado com estrutura do método direto, a apuração em conjunto do fluxo de caixa indireto (destacando geração de caixa e necessidade capital de giro) fornece informações importantes para apoiar o planejamento financeiro empresarial.

Sobre o autor:

Louremir Reinaldo Jeronimo é  Doutor em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas – FGV EAESP. Professor convidado dos cursos de MBA do FGV Educação Executiva e FGV In Company (Saiba mais)

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5 respostas »

  1. a importância do fluxo de caixa é indiscutível. No entanto, entendo que ele se torna um instrumento de grande valor na medida que o torne dinâmico, possibilitando uma análise dinâmica da evolução dos negócios vis a vis ao planejamento financeiro de médio e longo prazo.

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