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Para se compreender o conceito de Economic Value Added – EVA®, inicialmente devem ser realizados alguns comentários sobre a Demonstração de Resultado do Exercício (DRE).
Normalmente, a DRE apresenta a seguinte estrutura simplificada:
Observando atentamente, pode-se notar que da Receita são subtraídos todos os valores referentes à operação até a apuração do lucro líquido. No entanto, apenas um item muito importante para a avaliação dos negócios não é deduzido do resultado, que é o valor do custo referente ao recurso disponibilizado pelo investidor.
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O valor do custo do capital do investidor aplicado no negócio depende basicamente de dois fatores:
- O montante do investimento realizado pelos proprietários. Composto pela soma dos recursos disponibilizados para o negócio, seja na forma de inserção de novos capitais ou mesmo através de lucros gerados no negócio e não retirados;
- A taxa do custo do capital do capital investido. De uma maneira simples, este percentual é derivado do risco inerente ao negócio. A comparação para apuração desta taxa pode tomar como parâmetro o risco de uma empresa ou grupo que atue em setor semelhante. Um dos métodos mais conhecidos para avaliação do custo de capital próprio é o CAPM (Capital Asset Pricing Model – Modelo de Precificação de Ativos).
Desta forma, para uma melhor avaliação do desempenho do negócio, gerencialmente, a apuração do resultado não deve ser finalizada no seu lucro líquido, mas dele deve ser subtraído o valor do custo do capital próprio. Este montante pode ser entendido como sendo o mínimo esperado pelo investidor para se considerar satisfeito com o investimento na empresa em virtude do risco observado.
Assim, a apuração do EVA®, com base nos demonstrativos contábeis da empresa, pode ser visualizado da seguinte maneira:
Deve-se observar que existem outras formas de apuração do EVA®, sendo esta apenas uma delas.
Como exemplo, suponha que uma empresa apresente um lucro líquido de R$ 1.000.000 em determinado período.
Caso o valor do custo de seu capital próprio seja de R$ 700.000, o EVA® resultante desta subtração seria de R$ 300.000. Nesta situação, o entendimento que se obtém é que a empresa superou as expectativas do investidor neste montante e, desta forma, tende a se valorizar.
Por outro lado, caso o valor do custo do capital próprio apurado seja de R$ 1.200.000, o EVA® resultante desta subtração seria R$ 200.000 negativo. No mesmo sentido, considera-se, nesta situação, que a empresa não teria sido capaz de atender às expectativas mínimas do investidor. Neste caso, a tendência seria de desvalorização.
O método EVA® foi criado por Joel Stern e G. Bennett Stewart III e patenteado por sua empresa, a Stern & Stwart Co. no início da década de 90, ganhando notoriedade e aceitação depois de ser adotado pela Coca-Cola Co.. A grande diferença do EVA® em relação a outros métodos é a sua facilidade de aplicação através dos relatórios contábeis já existentes.
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Quando uma empresa incorpora o conceito do EVA® passa a avaliar a real necessidade de investimentos a serem consumidos de modo a evitar que gastos desnecessários aconteçam, elevando assim, o retorno sobre o capital investido.
Uma empresa que utilize o conceito de EVA® adota como filosofia e objetivo a obtenção dos maiores níveis possíveis de lucro, empregando o mínimo de capital. Isto acontece devido ao fato de que no momento em que os funcionários são remunerados, não através de índices de lucro mas sim pelo valor agregado em relação ao investimento realizado, passam a levar em conta o montante de investimento como fator determinante em sua premiação (o que não acontece com avaliações em que apenas o lucro ou variações do seu montante são consideradas).
Este tipo de filosofia difundida entre funcionários de uma empresa é de fundamental importância para o acionista, pois é coincidente com seus interesses e reduz o chamado conflito de agência.
O que se pode esperar dos funcionários onde este conceito esteja arraigado é que procurem racionalizar processos e surja aversão à investimentos desnecessários, evitando aplicações de recursos que não tragam o retorno mínimo esperado pelos acionistas.
Por fim, investidores contam com um método de comparação entre diferentes negócios, pois o seu cálculo já leva em consideração o risco através do custo de cada fonte de capital. Neste caso, uma empresa que apresente maior risco irá apresentar maiores taxas de custo de capital próprio, o que diminuirá o EVA®.
Crítica à utilização do modelo de EVA® na avaliação de desempenho
Apesar das vantagens do EVA®, esta é uma medida dirigida ao passado, uma vez que tem como base de avaliação resultados já ocorridos.
O EVA® apesar de apresentar uma série de pontos positivos, também gera a possibilidade de trazer alguns problemas para a empresa quanto à sua lucratividade futura. Isto pode ocorrer pois alguns gestores podem evitar a realização de novos investimentos para reduzir o custo do capital empregado.
Ao utilizar este conceito na avaliação de desempenho dos gestores, abre-se a possibilidade de remunerá-los e premiá-los de acordo com o montante adicionado acima das expectativas dos investidores. O que se pode entender desta postura é que se está premiando aqueles que superam o considerado satisfatório e que os outros não teriam atingido os resultados esperados ou somente fizeram o mínimo para remunerar o investimento dos proprietários.
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Apesar da implantação deste conceito na cultura da empresa fazer com que se busque maior racionalização de investimentos e processos, o que em si é muito satisfatório para os negócios, deve-se observar também que alguns administradores estando conscientes de que sua remuneração irá depender da diferença entre o lucro contábil gerado e o valor do custo do capital sobre sua responsabilidade, poderão deixar de realizar investimentos para não aumentar este encargo.
Em um primeiro momento, este fato pode ser considerado favorável pois faz com que tanto o EVA® da empresa quanto a satisfação dos investidores aumentem. No entanto, no médio e longo prazo pode trazer situações de desvantagem em um mercado competitivo. Isto pode acontecer, por exemplo, quando os administradores deixam de investir em tecnologia, ficando com um parque industrial que, neste momento, atende às suas necessidades mas que em certo ponto poderá se tornar obsoleto.
Desta forma, deve-se considerar o EVA® como uma importante ferramenta de gestão e avaliação de desempenho pois favorece o alinhamento entre as expectativas de investidores e os interesses dos gestores, mas tomado o cuidado de não incentivar os gestores à tomarem ações que venham a comprometer a atuação e competitividade futura da empresa.
Sobre o autor:
Louremir Reinaldo Jeronimo é Doutor em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas – FGV EAESP. Professor convidado dos cursos de MBA do FGV Educação Executiva e FGV In Company (Saiba mais)
Categorias:Análises Gerenciais, Indicadores, Planejamento Estratégico
Ótimo artigo elaborado sobre o EVA®. Compartilharei em minha rede a sua contribuição ao tema.
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Muito obrigado, Alexandre!
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Professor, excelente artigo e tenho lido todos e com certeza, irei utilizar no planejamento estratégico e desdobramento de metas de meus trabalhos. Parabéns
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Muito obrigado!! Fico muito feliz em saber que o nosso trabalho tem contribuído de alguma maneira. Até logo!
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Ótimo artigo. Objetivo e de fácil compreensão.
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Muito obrigado, Adailton!
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Excelente artigo! Compartilharei!
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Muito obrigado Sílvia!
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